BALÕES AO REDOR DO MUNDO
Que tal flutuar pelo céu do planeta num balão, em perfeita harmonia com a natureza, poder desfrutar do silêncio do azul infinito e contemplar lindas paisagens? Essa aventura foi vivenciada por Heitor e Silvia Reali: um casal de amigos jornalistas e colaboradores deste caderno de turismo. Embarque com eles nesta aventura e divirta-se!
TEXTO E FOTOS POR HEITOR E SILVIA REALI
NOVE CENÁRIOS ESPECIAIS NO MUNDO PARA VOAR DE BALÃO
Flutuar sobre os mais atraentes cenários do mundo a bordo de um balão é flanar pelo espaço e ver, sob outro ângulo, a Terra, as lonjuras do horizonte e as nuvens – as paisagens do céu. É entender porque os pássaros cantam. O balão libera nosso lado criança e permite voar, simplesmente, como em sonho e mergulhar no azul. O caminho aberto é passaporte para o poeta – “Não amo o oceano marítimo. Gosto mais do oceano aéreo. Neste é que encontro meu ritmo e o meu mistério”, escreveu Cassiano Ricardo (1895 -1974).
CAPADÓCIA – TURQUIA
Nas primeiras horas da manhã cruzamos os ares triscando as montanhas brancas da Capadócia, na região de Goreme. Este é um dos destinos mais procurados para voos de balão. É como sobrevoar o passado. As montanhas, que vistas do alto lembram sauveiros, foram durante séculos refúgio de povos como persas, hititas, muçulmanos e árabes. A pedra vulcânica e porosa do abrigo natural, fácil de ser trabalhada, foi esculpida num labirinto de galerias, casas e até mesmo templos. De lá de cima, os cones de pedra lembram uma plantação de estranhos cogumelos. Depois de certo tempo a sensação de paz toma conta de todos a bordo, e a imaginação à solta levou-nos a imaginar pairando sobre tabuleiros de suspiros de um gigante.
BAGAN – MYANMAR
A paisagem de Bagan, sítio arqueológico localizado em Myanmar, antiga Birmânia, é puro sonho e encantamento. São mais de 2 mil templos espalhados entre jardins e bosques ao lado do rio Irrawddy. Lá de cima, admiramos a exuberância de cúpulas revestidas de ouro – ainda mais belas sob o brilho do sol – e também vimos monges budistas em suas túnicas laranjas. Depois de fazer o passeio aéreo, que vale por uma meditação, é fundamental visitar os mosteiros e entabular uma conversa com essa gente alegre e acolhedora. Papo é que não falta.
RESERVA MASAI MARA – QUÊNIA
Famosa por ter servido de cenário para o filme “Out of Africa”, com Meryl Streep e Robert Redford, a reserva Masai Mara é perfeita para um sobrevoo de balão. O dia nem amanheceu e vestidos com malhas, cachecóis e gorros, roupas incomuns para a paisagem africana, já estamos a postos para o safári a bordo de um balão colorido. O passeio se faz sem pressa, sobrevoando as savanas, enquanto o balão vai rompendo a neblina. A reserva é famosa pela migração de milhares de gnus – exemplares da família dos antílopes – que, obedecendo à própria natureza, saem em busca de novas pastagens. Reduzidos pela distância, os animais formigam no solo. Ao sobrevoar bandos de zebras, o belo grafismo branco e preto do conjunto risca o ocre dourado dos campos. Nesse momento, para não assustar os animais, o balonista diminui o ruído causado pelo maçarico que aquece o ar dentro do balão.
DUNAS DE SOSSUSVLEI – NAMÍBIA
A essência de uma viagem de balão pode ser capturada sobrevoando as Dunas de Sossusvlei, localizadas no Parque Nacional de Namib-Naukluft, a maior área preservada do continente africano. Nesse deserto as areias exibem tons vermelhos e laranjas devido à alta concentração de ferro, e há poucos animais: apenas o antílope órix e avestruzes. Altas dunas e o silêncio dominam a paisagem. Nada de estradas, trilhas ou vilarejos como referência. O horizonte é desmesurado e o espaço sem fim. Dá para se perder no céu. É a oportunidade para apurar os sentidos, concentrando-se na leveza, e acompanhar o vento, deixar o pensamento se distanciar como em uma meditação. Sentir a liberdade do pássaro que aproveita a corrente de ar e plana. À primeira vista poderia ser o cenário com menos atrativos, mas para a viajante brasileira Maria Elena Wheeler que já sobrevoou três dos lugares mais especiais do mundo, é o único que ela repetiria.
QUEENSTOWN – NOVA ZELÂNDIA
Nuvens já estavam no nome dado ao país pelos maoris, seus primeiros habitantes – Aotearoa ou “país da longa nuvem branca” –, e o balonismo é hoje um dos inúmeros esportes praticados pelos neozelandeses. Localizada na Ilha do Sul, entre o Lago Wakatipu e a cadeia de montanhas Remarkables, Queenstown tem só 15 mil habitantes, mas atrai uma multidão de gente viciada em esportes radicais. O balão é um dos mais light. Munidos de máquinas fotográficas todos embarcam entusiasmados no cesto, pois sabem que irão sobrevoar passagens que serviram para os cenários épicos da trilogia “O Senhor dos Anéis”. Vista de cima a cidade rodeada de jardins floridos lembra um bordado, e as comparações ficam inevitáveis: campos cultivados formam uma colcha em patchwork, a paisagem vira um mosaico. Logo a cidade se distancia, e durante cerca de uma hora o balão sobrevoa cumes nevados e o Milford Sound, um fiorde dominado por montanhas de 3.000 metros de altura que se refletem nas águas azuis cobalto do lago.
ALICE SPRING – AUSTRÁLIA
Terra vermelha, silêncio e rochas marcam o passeio de Alice Springs, uma das cidades mais visitadas do Outback – o imenso deserto australiano que ocupa quase dois terços do país. Ali os aborígines e sua milenar cultura vivem em comunhão perfeita com a natureza. Ao sul e a leste de Alice Spring, capital do território do norte, regiões estão para serem exploradas walkabout, como os australianos gostam de definir o viajar com roteiro boêmio, a esmo e sereno. Isso vale para os apaixonados por veículos off-road e para o balão – um mirante móvel.
À tardinha, quando o calor forte dá trégua, embarcamos a todo pano num itinerário sem freios que pode seguir antigos leitos de rios, canyons e anfiteatros rochosos. Quer pelas formas arredondadas em tons de ferrugem, quer pela textura, os blocos de pedra vistos do alto sugerem rochas “infladas”. É melhor voar à tarde, para poder admirar o crepúsculo, que mais parece ferro em brasa, e vislumbrar nessa região cujos nativos denominam “País dos Sonhos” uma mensagem flamejante dos deuses.
ARAÇOIABA – BRASIL
“Gigante gentil.” Assim o balonista Luiz Consiglio apelidou seu balão nos tons rosa-choque e vermelho. Tamanha amabilidade resulta do voo sempre seguro, pois só se voa quando o tempo permite. Apaixonado pelo esporte, ele sabe que o Brasil possui lugares especiais para se sobrevoar num balão: Lençóis Maranhenses, Aparados da Serra e Pantanal, só para citar alguns. No entanto, o público ainda não é tão frequente para manter a estrutura de voo. Todos os apetrechos como o envelope-tecido do balão, maçarico e ventilador são acondicionados no cesto, e tudo segue numa picape para o destino escolhido. Pode ser Piracicaba, Pindamonhangaba, Rio Claro, Sorocaba, enfim, onde o tempo estiver propício. Então é só inflar o gigante e ganhar os ares para logo ver a cidade se transformar em maquete, e os animais no pasto se assemelharem a miniaturas de presépio. Para Consiglio “o que vale é o voo em si e abandonar-se ao vento. É mágico, lúdico, vicia, quem voa uma vez fica enfeitiçado”.
CHATEAU D’OEUX – SUÍÇA
Distante apenas 95 quilômetros de Genebra, Chateau D´Oeux é a capital mundial do balonismo alpino. O cenário emociona: a vista alcança 360° sobre os Alpes nevados. Durante pouco mais de uma hora sobrevoamos, por vezes em altitude de 3500 metros, uma paisagem branca e divina. Dois lagos, o Gruyére e o Lago Léman, de águas tão azuis quanto puras, refletem o céu e espelham o balão com todo mundo dentro. Mas o ponto alto acontece quando se avistam o mítico Mont Blanc e o Matterhorn. Esses voos só são possíveis no inverno, de 19 a 27 de janeiro, durante o campeonato de balonismo, e têm duas saídas diárias. No final do passeio os viajantes são brindados com uma taça de champanhe.
CHATEAU D´ESCLIMONT – FRANÇA
Já vai longe o tempo em que os primeiros viajantes de balão em território francês foram um galo, um pato e um carneiro, cobaias dos irmãos Joseph e Ettienne Montgolfier, pioneiros no voo tripulado. Hoje seus passageiros são sofisticados turistas que se hospedam nesse castelo renascentista erguido a sessenta quilômetros de Paris. Partem logo ao amanhecer.
Sobrevoam os jardins de extenso gramado, o bosque e os campos do entorno do castelo que foi antiga residência da família La Rochefoucauld. Na volta é servido um régio café com direito a champanhe. Caso o viajante queira uma experiência ainda mais marcante, poderá fazer o mesmo voo partindo a noite: para tocar as estrelas. Nessa viagem é servido um jantar gastronômico a bordo.
O QUE VOCÊ PRECISA SABER
* Siga rigorosamente as orientações do piloto do balão.
* O voo de balão é seguro, e o balonista precisa tirar um brevê – carteira de habilitação.
* O corpo do balão (envelope) é de um nylon especial que não permite a propagação do fogo e é rip- stop – não se rasga facilmente.
* O controle da altura do voo é feito pelo maçarico alimentado por cilindros de gás propano.
* No topo do envelope existe uma abertura denominada Tap. Por meio de uma corda o piloto libera o ar quente, permitindo o pouso.
* O cesto é feito de vime, material leve e flexível. Carrega o piloto os passageiros, os cilindros de gás e os instrumentos de navegação.
* Usar filtro solar e levar agasalho; o uso de boné é indispensável.
* Cada passeio dura em média uma hora.
QUEM LEVA PARA VOAR DE BALÃO NO BRASIL:
CONSIGLIO ADVENTURES – Tel: +55 (11) 5093-3781 – www.consiglio.com.br
O casal de jornalistas Heitor e Silvia Reali, são nossos parceiros e colaboradores deste caderno de turismo.
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